um pé de meia meu e um pé de meia seu

Marta Leite Montagnana
2 min readMar 20, 2024

Ontem me deparei com uma lembrança inesperada sua. Mais do que me deparei, fui rendida por uma delas, completamente esquecida.

[Eu amo quando os sons do mato se sintonizam e crescem, crescem… até cessarem juntos. Cigarras, depois um pássaro.

Às vezes fico pensando em como fazer uma mudança inteira pra cá sem que seja definitivo, eu juro.]

Meus amigos encontraram um pé de meia que eu tinha esquecido na casa deles e não tinha achado mais… Há 4 meses. Acontece que eu pensei que não acharia mais esse outro pé e, há 4 meses, quando eu estava saindo da sua casa, arrumando a mala e vi aquele pé de meia avulso, sem o par, perguntei se você queria esse pé sobrando para usar na limpeza (da prateleira que fazia mais de mês que você não limpava) e você aceitou. Achei que não aceitaria, inclusive, mas aceitou.

Quando minha amiga veio ontem com o pé de meia achado, que eu tinha completamente me esquecido, meu coração até parou um pouquinho, voltei 4 meses, a cena toda veio na minha mente, foi parecido com um déjà-vu, voltei rápida e vivamente no tempo. Revivi aquele momento nosso. Que era também de despedida.

Um pé de meia. Um simples pé de meia. Logo eu que nunca deixo nada meu com ninguém, não esqueço coisas em viagens… Logo uma meia, essa parte — meia minha, meia sua.

E eu adorava aquela meia, era minha preferida.

Um pé aqui e um pé aí.

E não que isso queira dizer algo místico, porque não quer. Mas talvez diga algo para mim.

Mas é isso também, “cada cabeça um mundo”, não é? E não sei se você achar esse outro pé de meia, qualquer dia, no meio das coisas, se vai te mover no tempo e nas memórias também, ou se você até já deixou ele por aí…

Eu simplesmente não sei o que fazer com esse pé aqui, com essa meia aí

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Marta Leite Montagnana

caipira, feminista, produtora cultural mamando nas tetas da Lei Rouanet, artista sem talento formada na balbúrdia, calígrafa e tatuadora nas tantas horas vagas.